Guias Arte 365

Bauhaus

Como era o contexto quando surgiu a Bauhaus?

 

Por um momento, entre as duas guerras mundiais, uma atmosfera de otimismo e aventura pairou sobre essa parte da Alemanha rural, onde artistas, arquitetos e designers trabalhavam juntos numa tentativa de criar uma taquigrafia visual unida para o mundo” (p. 227).

Antecedentes da Bauhaus: a espionagem mais produtiva do século

Antecedentes da Bauhaus Adam Gottlieb Hermann Muthesius (1861 – 1927), foi adido cultural em Londres. Mas na verdade, foi enviado para Alemanha, a fim de averiguar em que se baseava o êxito industrial da Inglaterra.

Desse período nasce “The English House” em 1904, onde destaca a figura de William Morris.

Esse período londrino, também terá como fruto, a fundação junto a Peter Behrens de uma associação mista de artesãos, artistas e industriais, o Deutsche Werkbund:

Esse foi um lance certeiro: um esforço de caráter abertamente nacionalista baseado nos ideais de Morris. Seu objetivo era acrescentar algum estilo às ambições industriais do país – ajudar a promover seus esforços, aumentar a demanda dos consumidores e educar o público em matéria de gosto. Foi formado um conselho, composto de eminentes representantes das artes e dos negócios” (p. 231).

O Deutscher Werkbund vai se estender para a Suíça, onde se funda o Swiss Werkbund e para a Áustria (Österreichischer Werkbund).

Para saber mais sobre Hermann Muthesius (em inglês): https://web.archive.org/web/20131003090829/http://www.hermann-muthesius.de/index_eng.htm

Peter Behrens (1868 – 1940), aglutinador de talentos

Era arquiteto auto-didata, porque na verdade estudou arte.

Em 1907 foi contratado como consultor artístico da AEG (eletrônica), convertendo-se no primeiro consultor de marca do mundo! Nesse período realizou para a empresa, logotipos, cartazes, escadas rolantes, lustres, etc, para muitos com ele nasce o desenho industrial.

Peter Behrens AEG
Em 1909, desenha para a mesma empresa, sua fábrica de turbinas:

Ele queria que a arquitetura tivesse um efeito positivo sobre os operários: oferecer-lhes dignidade num mundo brutal, inspirar e estimular” (p. 234).

Peter Behrens - AEG - Bauhaus Antecedentes

Seu escritório de arquitetura atraiu a jovens que fizeram história: Mies van der Rohe, Walter Gropius, Le Corbusier, Adolf Meyer, entre outros.

Louis H. Sullivan, o pai dos arranha-céus (1856 – 1924)

Há momentos em que ideias similares se levam a cabo de forma simultânea. Do outro lado do Atlântico, em Chicago, Louis H. Sullivan também pensava em como a arquitetura impactava social e emocionalmente nas pessoas, e chegou a uma conclusão famosa até hoje:

“A forma obedece (sempre) a função”, que era exatamente como pensava Behrens.

Ele criou o primeiro arranha-céu do mundo em 1891, o edifício Wainwright (St. Louis | Missouri) e com ele um modelo que foi usado e abusado, em que se acentuava a natureza vertical em detrimento da horizontal.

Edifício Wainwright (St. Louis | Missouri)
Mas antes de chegar a essa conclusão, Sullivan se questionava:

Como proclamaremos da altura estonteante desse telhado moderno, estranho, esquisito, o evangelho pacífico do sentimento e da beleza, o culto de uma vida mais elevada?” (p. 233).

O arquiteto Frank Lloyd Wright afirmou que o edifício Wainwright foi “a primeira expressão humana de um arranha-céu de aço”.

Para saber mais:

Walter Gropius e Adolf Meyer: esquentando motores

Gropius (1883 – 1969) e Meyer (1881 – 1929) trabalharam para Behrens, mas em 1910 abriram seu próprio escritório. Onde nasce em 1911 seu projeto mais importante, a fábrica Fagus.

Antecedentes Bauhaus

Gropius e a Bauhaus

No final da Primeira Guerra Mundial, Alemanha passa de uma monarquia a uma república. Walter Gropius queria ajudar na reconstrução desse novo país.

Ele formulou um plano para criar um novo tipo de escola de arte, cujo objetivo seria equipar uma nova geração de jovens com as habilidades práticas e intelectuais necessárias à construção de uma sociedade mais civilizada, menos egoísta. Seria uma escola de arte e design assumindo o papel de um reformador social” (p. 235).

Já tinha o plano e veio a oportunidade. Foi convidado para ser diretor de uma nova instituição que surgia com a fusão de duas academias e assim nasce a Staatliches Bauhaus in Weimar.

Para saber mais:

Nome – Bauhaus

O nome foi dado por Gropius, e em alemão “bauhaus” significa: casa de construção OU casa para a construção.

No primeiro folheto da escola podemos ver uma xilogravura do responsável pela oficina de impressão gráfica: Lyonel Feininger (1871 – 1965).

Bauhaus - Folheto 1919

“A imagem reflete a aura do medievalismo que permeou a fase inicial da Bauhaus, cujo sistema acadêmico remonta ao treinamento empregado pelas guildas de artes góticas tardias (MOMA)”.

Vorkurs: o curso inicial

Todos os alunos nos primeiros 6 meses deviam frequentar o curso preliminar – Vorkurs – de Johannes Itten (1888 – 1967).

O objetivo de Itten era ajudar os estudantes a encontrar sua voz artística através da intuição.

Além de frequentar suas aulas, também deviam passar por diferentes oficinas artesanais que iam da tecelagem à encadernação, entre outras.

Cursos da Bauhaus

Professores de luxo

Bauhaus - Professores Estrela

Novo curso preliminar

Para manter a escola numa Alemanha cada vez mais radicalizada, Gropius realiza mudanças em seu programa.

Para mostrar sua funcionalidade, altera o curso preliminar a fim de introduzir um elemento de rigor e racionalidade. Para tanto contrata o húngaro Lazsló Moholy-Nagy (1895 – 1946) e mais tarde, esse curso será dividido entre Moholy-Nagy e um ex-aluno da escola, Josef Albers (1888 – 1976).

“Quadro telefônico EM1/EM2/EM3” | 1922-1923 | Moholy-Nagy

Bauhaus - Moholy-Nagy

Segundo Gompertz uma espécie de fusão do construtivismo com Mondrian.

“Estes trabalhos foram produzidos por uma fábrica de esmaltes em Weimar, Alemanha, de acordo com as instruções dadas pelo artista. Moholy-Nagy escreveu mais tarde que fez o pedido por telefone, fornecendo às pinturas o título não oficial. Enquanto os três trabalhos compartilham uma composição geométrica abstrata abstrata, EM 1, EM 2 e EM 3 foram feitos em larga, média e pequena escala, respectivamente. A superfície de esmalte brilhante de cada pintura apresenta uma única faixa de preto que se estende de cima para baixo e duas formas abstratas formadas por linhas de várias espessuras que se cruzam perpendicularmente (MOMA)”.

“Set de 4 mesas empilháveis” | c. 1927 | Albers

Bauhaus - “Set de 4 mesas empilháveis” | c. 1927 | Albers

A era do desenho industrial na Bauhaus

Incentivados por Moholy-Nagy, seus tutelados usaram materiais industriais modernos, como Marianne Brandt (1893 – 1983), Wilhem Wagenfeld (1900 – 1990) e Carl Jucker (1902 – 1997)

Wilhem Wagenfeld e Carl Jucker

Marianne Brandt

Bauhaus - Marianne Brandt

“Entre os produtos mais conhecidos desenvolvidos na Bauhaus, a famosa escola alemã de arte moderna, arquitetura e design, este bule de chá foi um trabalho estudantil projetado por Brandt logo depois que ela ingressou na oficina de metal.

O artista László Moholy-Nagy, que assumiu o cargo de mestre em oficinas em 1923, incentivou-a a entrar neste campo dominado por homens, numa época em que praticamente todas as alunas da escola eram relegadas a oficina de têxteis.

Um exercício realizado para reduzir um objeto cotidiano a uma combinação de formas elementares, o bule usa formas geométricas puras inspiradas na estética construtivista que Moholy-Nagy havia introduzido na oficina. Seu design é inovador, porém funcional, e possui uma alça de ébano e um acabamento que é confortável de segurar.

Embora forjado à mão a partir de prata níquel, o bule foi uma das primeiras tentativas de Brandt de desenvolver peças para produção industrial. Mais tarde, ela escreveu que “a tarefa era moldar essas coisas de tal maneira que, mesmo que fossem produzidas em números, tornando o trabalho mais leve, elas satisfizessem todos os critérios estéticos e práticos e ainda seriam muito menos caras do que qualquer produção individual.”

O bule permaneceu um protótipo, mas alguns de seus projetos subseqüentes de metalurgia, especialmente para iluminação, foram produzidos em massa.

Brandt deixou a Bauhaus em 1929, quando a oficina de metal se fundiu com outros departamentos e deixou de ser uma área vital na escola” (MOMA).

Marcel Breuer – B3

Outro aprendiz que virou professor, Marcel Breuer (1902 – 1981). Em 1925, passou a diretor da oficina de móveis.

Breuer criou uma das cadeiras mais famosas do planeta, a cadeira B3 com a ajuda de um encanador local. O mais louco é a forma que lhe surgiu a ideia:

Um dia, quando ia de bicicleta para o trabalho, ele olhou para seu guidom e teve uma ideia. Poderia a barra de aço tubular oca que ele estava segurando ser usada para um outro propósito? Afinal, aquele era um material moderno, relativamente barato e passível de produção em massa. Provavelmente era possível usá-lo de uma outra maneira – para fazer uma cadeira, talvez…” (p. 244).

Bauhaus - cadeira Marcel Breuer B3

Em 1925, a escola estava em crise e isso levou à sua mudança para Dessau, com um campus projetado por Gropius, inaugurado em dezembro de 1926.

Bauhaus Dessau

Para saber mais:

A Bauhaus sem Gropius (1928 – 1933)

Em 1928, Gropius renuncia como diretor (e outros professores acompanham sua demissão). Em seu lugar coloca Hannes Meyer (1889 – 1954). Mas segundo alguns políticos de Dessau, a escola se radicaliza com Meyer e pedem a Gropius que recomende outro diretor.

Ele sugere outro arquiteto que havia trabalhado com ele na firma de Behrens – Ludwig Mies van der Rohe (1886 – 1969). Ele aceita o cargo e assume a direção da Bauhaus em 1930.

Mies van der Rohe e seu pavilhão

Antes disso, Mies van der Rohe criou o Pavilhão Alemão na Exposição Internacional de Barcelona de 1929. E para receber uma eventual visita dos reis de Espanha, a cadeira e banco Barcelona.

Cadeira Barcelona - Mies van der Rohe - Bauhaus

O fim da Bauhaus e a fuga dos artistas

Numa tentativa de salvar a escola, Mies van der Rohe traslada a Bauhaus para Berlim. Mas em 1933, Hitler fecha a escola.

E para deixar claro o que achava da arte moderna, promove em 1937 a exposição intitulada “Arte degenerada”.

Com o nazismo, Europa perde toda uma geração de artistas que emigra para os Estados Unidos. E com o fim da guerra, a maioria desses emigrados já não retorna ao continente.

Kirchner e seu “Autorretrato como soldado”

Gompertz traz essa obra do expressionista Ernst Ludwig Kirchner (1880 – 1938) para falar do contexto onde surge a Bauhaus.

Essa obra se encontra no Allen Memorial Art Museum, em Ohio (Estados Unidos).

Kirchner - Autorretrato com soldado

A história da Bauhaus

Live sobre a Bauhaus dentro da leitura coletiva do “Isso é arte?!” do Will Gompertz. Para ver a playlist completa, clique aqui.

A história da Bauhaus

Palestra incrível do Dr. Luis Fernández-Galiano, realizada na Fundación March.

Os lugares da Bauhaus – Alemanha

A Vivi visitou em 2019, os lugares mais emblemáticos da Bauhaus.

Todas as citações onde não se sinalize o autor, fazem referência ao livro de Gompertz – Isso é arte?! O número da página indicado é da 9a. edição do livro em espanhol. Porque originalmente essa postagem foi criada para a leitura coletiva do citado livro.