Élisabeth Louise Vigée Le Brun nasceu num apartamento parisiense no dia 16 de abril de 1755. O pai pintava retratos normalmente usando a técnica do pastel, uma espécie de giz de cera e a mãe era cabeleireira.
Com 5 anos e como era normal foi para um internato. Mas sua saúde era meio frágil e ela voltava muito à casa familiar, que era quando o pai lhe ensinava a pintar.
Até que retornou de vez em 1766, até porque as escolas para mulheres eram em sua maioria bem inferiores às masculinas. Dois anos depois o pai foi fazer uma operação boba, retirar uma espinha de peixe que estava cravada no estômago e morreu, ela tinha apenas 12 anos.
Mas ela era um prodígio e com 15 anos pintava para ajudar a família, fazia retratos de vizinhos, amigos, mas não era suficiente, o que levou a mãe a se casar novamente. Daí já viu, todo $ que ela ganhava, ia para o bolso do padrasto.
Sua entrada num mundo de homens
O pai formava parte de uma espécie de grêmio de pintores, escultores e gravadores a Académie de Saint Luc. E ela conseguiu entrar e esteve por lá até sua dissolução em 1776 por Turgot.
Nessa academia, dois artistas que se tornaram seus amigos lhe ajudaram, segundo ela mesmo conta em suas memórias:
Gabriel François Doyen (1726 – 1806)
Claude Jospeh Vernet (1714 – 1789)
E como as mulheres não podiam entrar nas academias oficiais e tampouco estudar anatomia, ela tinha uma aliada, a mãe que posava nua para que ela aprendesse a pintar a anatomia humana. Além de frequentar os museus e galerias.
Élisabeth Vigée Le Brun e o Marchand
Em 1775 casou com o colecionador e marchand de arte Jean-Baptiste Pierre Le Brun. Um negócio ótimo para ambos, ela tinha acesso a sua rede de contatos e à sua coleção e ele aumentava seu prestígio e clientela através da arte de sua mulher, e ainda o que ela ganharia em diante!
Mas apesar de ter ganhado o sobrenome do marido, ela continuou assinando Vigee como ato de rebeldia.
Sua única filha Julie Louise nasceu em fevereiro de 1780. E pintou autorretratos com a filha e também pintou a menina sozinha.
Ela até deu a luz a um menino, em 1784, mas a criança morreu aos poucos dias do nascimento.
Élisabeth Vigée Le Brun e Maria Antonieta
Com apenas 23 anos de idade entrou no Palácio de Versalhes para pintar a rainha. E pintou o primeiro dos retratos de Maria Antonieta. Daí já viu, né? Todo mundo queria ser retratado por ela.
Ela ficou tão feliz com a pintura da Vigée Le Brun, que a nomeou retratista ou pintora da rainha, um título que nem existia.
Maria Antonieta e o retrato escandaloso
Élisabeth Vigée Le Brun realizou 30 retratos da rainha e um deles foi o maior escândalo 😱 Por quê? Porque Maria Antonieta vestia uma roupa conhecida como “robe en chemise”.
Um vestido confeccionado em tecido muito fino, sem muito fru-fru, geralmente em tons de branco ou creme e que se ajustava unicamente na cintura com um cinto de seda.
E como estava fabricado em algodão, foi importante para sua confecção o tratado comercial entre Inglaterra e França de 1786 que permitia a importação desse tecido.
Mas não pense que o pessoal aceitou de primeira esse traje, chegaram a dizer que uma mulher vestida assim ia praticamente nua.
Acusaram Maria Antonieta de anti-patriotica porque esse vestido estava feito de musselina, o tecido britânico e não com um tecido francês, como a seda. O escândalo foi tal que como o quadro estaria no salão oficial, mandaram que a artista o substituísse por outro retrato da rainha (Maria Antonieta a la rose).
A Academia machista
Prá ser alguém no mundo da arte francesa e em outros centros europeus, era necessário ser admitido pela academias reais. Lembra que era importante pelos salões que realizavam a cada 2 anos, bem como pela credibilidade relacionada com a admissão.
A partir de 1706, a Academia Francesa proibiu novas entradas de mulheres, com algumas exceções, como Rosalba Carriera e Therburch.
Em 1783, Élisabeth Vigée Le Brun tentou entrar apoiada pelo amigo Vernet e estava confiante porque havia pintado a Rainha Maria Antonieta. Mas lhe negaram a associação, alegando que como seu marido era um conhecido marchand de arte, eles queriam preservar a arte de sua dimensão comercial.
Mas graças à intervenção real, consegue entrar na Academia no dia 31 de maio daquele mesmo ano.
A entrada na academia estava sempre relacionada com uma obra apresentada e no caso da nossa artista foi uma alegoria, ou seja, uma obra que representa algo que não é palpável, ou seja, representa uma abstração.
No caso da tela apresentada por Élisabeth Vigée Le Brun (“La Paix ramenant l’Abondance”), ela representou a Paz trazendo a Abundância. Esse quadro pertence ao museu do Louvre e mede 1,32 metros de comprimento por 1,02 metros de altura.
O exílio da Élisabeth Vigée Le Brun
Ela estava muito ligada à família real, portanto quando explodiu a Revolução Francesa, era fugir ou ser guilhotinada.
Ela saiu de Paris entre os dias 5 ou 6 de outubro de 1789. Primeiro foi para Lyon com a filha e a governanta. O marido ficou em Paris.
Vigée Le Brun passou 12 anos no exílio, e nesse período esteve em diversas cidades e pintou muitas personalidades. Sem contar que foi admitida por um montão de academias, como a de Roma, Bolonha, parma, Berlim, Geneve, Avignon e São Petersburgo.
Memórias – Souvenirs
Le Brun começa a redatar suas memórias em 1829, quando escreve o primeiro volume. Continua em 1934 com a ajuda de suas sobrinhas, Caroline de Rivière e Eugènie Tripier Le Franc. Os dois primeiros volumes se publicam em 1835 e o terceiro em 1837.
O primeiro volume é epistolar, composto pela troca de cartas com a Princesa Kourakin, mas a partir do segundo volume intitulado “Souvenirs”, com a morte da sua correspondente, abandona essa forma narrativa.
Olha o retrato que ela fez da princesa – Retrato de Natal’ja Golovina, 1797, óleo sobre tela, Utah Museum of Fine Arts.
Até a Carta X conhecemos sua vida em Paris e nessa carta anuncia a mudança de sua vida em razão da Revolução.
E as próximas cartas, bem como o volume 2 e 3 tratam de seus 12 anos de exílio e ao final seu retorno a Paris em 18 de janeiro de 1801.
Em Souvenirs fala do dinheiro que ganha com sua arte, que lhe trouxe reconhecimento social e independência como mulher, e como os homens da sua vida dispuseram do que ela ganhou, primeiro seu padrasto e depois e sobretudo, seu marido.
Lendo em essas memórias entramos nos banquetes, festas, assistimos de camarote os últimos anos do Antigo Regime, e sabemos da vida de vários famosos, porque por seu estúdio passaram muitos personagens, ela deixou mais ou menos umas 800 obras.
Para quem lê em francês ou inglês, dá para descarregar de forma legal as memórias de Le Brun em diversos formatos: http://www.gutenberg.org/ebooks/31934
Pdf em francês: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k46845d.pdf
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Élisabeth Vigée Le Brunviajou prá caramba. Em 1782 quando visitava Flandres com seu marido viu um retrato realizado por Rubens. O pintor barroco havia pintado de sua segunda esposa.
👩🏻🎨Vigée (como ela assinava) na cidade de Bruxelas, ou seja durante a viagem, criou um autorretrato inspirada na tela de Rubens. O que ela mantém do artista barroco? o céu, o tratamento das cores, o chapéu, que tem uma entidade própria.
Mas aproveita para se reafirmar como artista, não só pela paleta, mas também com o olhar, tão diferente da modelo de Rubens.