Em 1981, a Funarte realizou a exposição “Pablo, Pablo!: uma interpretação brasileira de Guernica”. Para ela, vários artistas criaram suas releituras da obra. Entre eles, Millôr Fernandes (1923 – 2012), que expôs: “Guernica um minuto antes, Guernica um minuto después”.
A obra de Millôr imagina a cidade espanhola basca, um minuto antes do fatídico ataque. Tudo é cor, não existe angústia, não existe dor. Ao longe, se vislumbra o mensageiro da discórdia, o avião alemão.
“Guernica um minuto antes” nas palavras de Millôr Fernandes
Em 2009, o artista publicou sua obra na Veja com o seguinte texto:
A cena se passa – como a posterior – num espaço interno-externo, casa-praça, alegria vilareja e doméstica. Uma pomba pacífica brinca com o rabo do touro, cheio de virilidade – notar os testículos.
O touro tem a satisfação do animal (homem) que está em sua querência. O cavalo dança. Em verdade cavalo e touro são lúdicos, de bumba-meu-boi.Uma luz no alto ilumina, claro-claro, (predomínio do amarelo), tudo!
Um jovem militar oferece uma flor a uma jovem guerniquense com seus seios ansiosos de maternidade.À esquerda a mulher já-mãe cuida de seu filho. À direita uma ama encaminha um bebê para a saída (para uma obra futura do pintor) enquanto, à janela, Bernarda e Alba fofocam, contentes. Uma pede à outra querosene emprestado, sem pressentirem os agressores, no céu azul”.
Conheci essa obra apenas em 2017 quando visitei no Museu Reina Sofia (Madri) a exposição sobre um dos maiores críticos de arte brasileiros – Mario Pedrosa.
“Guernica um minuto antes” – entrada do catálogo da exposição sobre o Mario Pedrosa
Millôr Fernandes
Guernica um minuto antes. Guernica um minuto depois [Guernica un minuto antes. Guernica un minuto después], 1981
Tinta china, collage y guache sobre cartón
Copia de exposición
Colección Instituto Moreira Salles
Na mostra estavam presentes aqueles artistas que Mario Pedrosa acompanhou, ajudou, resenhou, entre eles Millôr Fernandes.
Mas se o desenho original tinha 72,7 x 101,9 cm, na exposição em Madri foi ampliado para 200 x 276 cm, até para conversar melhor com o Guernica, obra estrela desse museu madrilenho.
Li que a ampliação se realizou para a exposição do mesmo ano: “Piedade e Terror em Picasso – o Caminho para Guernica”. Mas visitei essa exposição que foi um marco tanto em termos de obras como de visitantes, e não lembro dessa obra de Millôr, que tampouco aparece no seu catálogo. Mas como foi uma mostra multitudinária, vai saber se deixei alguma sala de lado entre aquele mar de gente.
Data: 1981
Técnica: colagem e gouache sobre papelão
Lugar: Instituto Moreira Salles