De todas as pessoas notáveis que conheci na minha vida, a primeira que devo mencionar é Georgia O’Keeffe. Se ela não tivesse respondido tão gentilmente à minha carta desajeitada e imprudente para ela, não tenho certeza se algum dia teria chegado à América. Ela foi minha primeira e maior benfeitora; foi por causa dela que pude ir para os EUA e iniciar minha carreira artística para valer.
Yayoi Kusama fala desse intercâmbio de cartas em sua auto-biografia – “A rede infinita”.Na embaixada americana em Tóquio conseguiu o endereço da artista e lhe envio uma carta e algumas de suas aquarelas.
O´Keeffe estava no auge de sua fama, portanto Kusama não alentava muita esperança na resposta. Escreveu sobre seu desejo de ir a Estados Unidos.
Georgia lhe respondeu e mais do que isso, essa carta inaugurou uma série de cartas que elas trocaram a partir de 1955.
Além da força que necessitava para emprender a aventura americana e escapar das garras de uma família que não via com bons olhos a profissão de artista, O´Keeffe lhe apresentou sua Marchand, Edith Halpert, com que, levava trabalhando desde o início de sua carreira.
Halpert comprou uma de suas obras, o que além da importância de formar parte da coleção de uma Marchand importante, foi um respiro num momento em que se encontrava praticamente na miséria, sem ter muitos dias sequer o que comer.
“(…) a veces mi estómago se pasaba dos días seguidos sin ver la comida”. Pero yo pintaba con toda mi alma” (p. 29).
Sororidade: da arte para a literatura de Ferrante
Essa passagem da vida de Kusama, a sororidade que uniu a história dessas duas baitas artistas me levou a revisitar uma crônica que li esse ano em “A invenção ocasional” de Elena Ferrante.
Em “As odiosas” fala da necessidade premente de compreender que a vida feminina já é complicada demais, para que ainda tenhamos de nos desviar de golpes de nosso próprio gênero.
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