“Encontrei” El Anatsui 2 vezes em 2023, a primeira em Bilbao, no Guggenheim e a segunda em Londres, na Tate Modern. Duas obras de grande formato.
El Anatsui – Bilbao Guggenheim
Em Bilbao com “Mar subindo”, obra construída com sua comunidade (Nsukka, Nigéria) durante um ano. Porque simplesmente seria impossível que uma pessoa pudesse entrelaçar todas essas cápsulas de tampas de garrafas de licor em solitário.
Além da questão de usar materiais descartados, que muitas vezes param no mar (uma forma poética de tratar o câmbio climático). Ainda, de forma sutil remete a um questão histórica. Na época colonial, muitos europeus trocavam bebidas alcoólicas por escravos nas costas africanas.
El Anatsui – Tate Modern
Na Tate, vi uma obra em 3 atos: “Atrás da lua vermelha”. Ela também fala do comércio transatlântico, mas me lembra muito uma ópera.
No primeiro ato, as tampas vermelhas de garrafas formam o contorno de uma lua. No século 18, muitas vezes os marinheiros usavam a lua como “bússola”, para guiá-los na viagem.
Mas nossa lua é vermelha, feita de sangue. Quantas pessoas morreram nessas travessias?
O segundo ato se apresenta de uma forma ou de outra dependendo do ponto de vista. Pode parecer uma terra, ou figuras fragmentadas. Esses movimentos migratórios forçados levam a formação de algo novo. Ninguém permanece imune, o mundo vai se recompondo.
No terceiro ato, para mim o mais impactante, temos “o muro”. Uma releitura de uma história antiga, da construção de um muro na terra de Notsie, atual Togo, pelo Rei Agokoli. O rei com isso queria oprimir seus súditos, evitar que se escapassem, que vissem mundo.
Mas como se lia na folha explicativa da obra, os muros são “… uma tentativa de esconder coisas. Eles provocam curiosidade e a curiosidade pode levar a imaginação para o outro lado”. O povo se revoltou e destruiu o muro de Agokoli.
Essa escultura começa preta e depois vão se unindo outras cores. Uma lembrança da diáspora negra e de seu encontro com outras culturas.
Diz aí, não são lindas demais essas obras???